Mensagem para Garcia

Por Silvia Regina Becker Pinto

Publicada em 20/04/2020 - Jornal NH

Você já ouviu falar sobre “Mensagem para Garcia?” Não?

Pois bem, o referido ensaio que, adiante, virou um livro, é de Elbert Hubbard e remonta a 1899; é um “causo” cubano em que o autor relata a história de um camarada, um militar chamado “Rowan” que, de forma heroica, enfrentando todas as dificuldades possíveis, levou a cabo uma tarefa quase impraticável.

Era o tempo em que irrompeu uma guerra entre os Estados Unidos e a Espanha. O que importava aos americanos, na ocasião, era se comunicarem, de forma urgente, com o chefe dos revoltosos - chamado Garcia -, pessoa que se encontrava escondida em uma fortaleza desconhecida no interior do sertão cubano sabe-se lá onde. Era impossível, bem por isso, um entendimento com Garcia por meio do Correio ou por telégrafo.

O que fazer diante daquelas adversidades quase intransponíveis? Ah, uma carta a ser entregue em mãos para Garcia. Mas, onde ele estaria? Onde entregar a carta? Quem faria aquilo? Só havia um homem capaz de encontra-lo e entregar a carta: Rowan!

Rowan, heroicamente, chamado à missão, sem perguntar onde, como ou de que forma, saiu para cumprir a honrosa incumbência e, contra todas as adversidades, entregou a mensagem do Presidente estadunidense McKinley ao general Calixto Garcia Íñiguez, líder das forças rebeldes cubanas durante a Guerra Hispano-Americana.

Curioso é que, quando defrontado com o ofício, Rowan não pensou duas vezes: tomou a carta, colocou-a no bolso, dentro de um invólucro impermeável, amarrou-a ao peito e, depois de quatro dias, saltou de um pequeno barco, alta noite, às costas de Cuba; embrenhou-se, na sequência, no sertão; após três semanas, surgiu do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil.

O personagem foi inspirado na biografia do tenente Andrew Summers Rowan, que combateu naquele conflito. Muitos, ao conhecerem o ensaio, criticam a postura passiva do tenente Rowan em levar a cabo aquela tarefa, simplesmente dizendo: “Sim, Senhor”, sem nenhuma orientação, afigurando uma verdadeira campanha de empregadores para uma obediência hierárquica cega e manipuladora dos empregados.

Pessoalmente, não vejo o caso sob essa perspectiva. Aliás, me intriga saber o que inspirou Rowan na execução daquilo que o incumbiram e até busco confrontar a inspiração com este momento de tantas dificuldades pelas quais o mundo passa. Prefiro enxergar nisso um viés de solidariedade, de apoio. O como e onde, se a gente quer, a gente encontra. E me pego questionado: Silvia, você pode levar uma mensagem a Garcia?

Mensagem para Garcia